Mosaiko facilita formação sobre a contribuição da educação para uma cultura de paz

O encontro reuniu alfabetizadores, professores e alfabetizandos.

Nós temos uma missão muito forte, que é ajudar a transformar o coração das pessoas” (José Samoko)

E por acreditar nesta missão é que as Irmãs Catequistas Franciscanas junto com a Equipa de Coordenação do Projecto de Alfabetização de jovens e adultos Mutuê, Muxima, Moko e Malu (4Ms), e o Mosaiko| Instituto para a Cidadania, têm realizado anualmente, durante as pausas pedagógicas, uma formação com os alfabetizandos, alfabetizadores e professores das escolas mais próximas que estão situadas no Bairro, Kalawenda, município do Cazenga.

A formação tem como objectivos ampliar o conhecimento, fortalecer a troca de saberes entre os educandos e educadores e sucessivamente encontrar metodologias práticas para melhorar o processo de ensino-aprendizagem.
A dinâmica das formações decorrem durante três dias. Neste ano teve início no dia 9 de Maio, com a presença de 140 participantes, na Escola Missionária Santa Madalena, entre alfabetizadores, professores e alfabetizandos.

O tema reflectido foi: A família e a educação para a paz, com a facilitação da bibliotecária Maria de Lourdes e o assessor de Grupos Locais de Direitos Humanos José Armando Samoko.

Para a contextualização do tema, os facilitadores começaram por questionar os conceitos que as pessoas têm sobre a paz, a partir da realidade de cada um.

O jovem alfabetizando, Generoso dos Santos, que estuda a terceira classe no Projecto de Alfabetização, fala da importância de dialogar sobre este tema: “Eu gostei muito de participar deste encontro. Para mim, falar de paz é falar do perdão, do diálogo para que toda gente viva melhor”.

E é com essa ideia que a senhora, Elizabete Todomundo Cungo também saiu desta formação. Para ela, os tempos da guerra já ficaram para traz. “Hoje, posso dizer que já temos paz. Temos lugar para os nossos filhos estudarem. Eu também tenho lugar para estudar, graças a Deus já sei escrever meu nome. Isso para mim é ter paz”, afirma confiante a alfabetizanda da primeira classe.

E assim, as falas da maioria dos participantes fizeram eco num só desejo: “Queremos paz na nossas famílias, nas escolas, nas ruas, nos hospitais, em todos os lugares”.

Sem paz nós não somos nada
Foi com essa sede de mais paz, que a formação teve continuidade durante os dias 10 e 11 de Maio. Desta vez, o encontro decorreu no Jango São Francisco de Assis, na Casa das Irmãs Catequistas Franciscanas, e teve a participação apenas dos alfabetizadores e professores, com a presença de 52 educadores. A temática seguiu na mesma perspectiva: “A contribuição da educação para uma cultura de paz”.

Para o assessor de Direitos Humanos do Mosaiko, José Armando Samoko, as pessoas têm muita ciência do seu contexto. As reflexões partem das observações que cada pessoa faz da realidade. “E a sensação de olhar para as pessoas e para a paz, com a ausência de guerra foi muito forte!”, exclamou o assessor. Porém, algumas idéias foram mais incisivas acerca dos conceitos de paz, alguém no grupo comentava: “É impossível falarmos de paz, quando temos tanta violência no bairro, tantos doentes nos hospitais, tantas crianças sem escola, jovens sem trabalho”. E realmente, para viver em paz é necessário termos acesso aos direitos básicos. Mesmo com esses desafios, os alfabetizandos afirmaram fortemente a importância da família, que é o centro de tudo. A fé, o respeito, o diálogo e o amor ao próximo são gestos que ajudam a promover a paz”, comentou Samoko.

Que isso seja uma verdade a nível pessoal, familiar e social. É assim que sonhamos com uma sociedade mais segura. A bibliotecária, Maria de Lourdes, destaca que há uma esperança muito grande e que é notável que os alfabetizadores e professores fazem muita coisa, para que a comunidade possa viver efectivamente em paz, e é na educação que eles e elas encontram a melhor ferramenta para promover a paz”.

A paz é também fruto da educação
E isso é um facto, o alfabetizando da primeira classe e pai de quatro filhos, Agostinho da Costa Pinto, fala de como a educação o tem ajudado a ser alguém melhor, “o Projecto de Alfabetização tem me dado oportunidade para aprender mais. Meu sonho é que os jovens que fazem parte de “grupos”, pensem nas suas famílias e mudem de vida. Eu era um desses, que vivia sem perspectiva. E hoje, não quero mais esta vida para mim. Sonho com um futuro melhor para os meus filhos”, declara Agostinho.

As várias organizações da sociedade civil realmente têm funções fundamentais no processo de construção da paz. O director pedagógico do Colégio Professora Ritáuria, Flaviano Daniel, afirma que o diálogo mais profundo entre professores e alunos, a família, a polícia e a comunidade, a administração e os cidadãos, é um dos caminhos que ajudam a construir a paz que tanto queremos”.

Para os professores da Escola Santa Madalena, Henrique Dala e Arcádia, o tema foi pertinente e a paz começa em casa, nas famílias. “Por isso é importante cuidarmos do comportamento das crianças, pois actualmente elas são reflexo do que veem os adultos fazerem, se eles lutam, elas também vão lutar. Isso não está bom! Portanto, nós professores podemos ajudar a transformar”, asseguram.

A paz constrói-se com gestos pequenos, como uma simples saudação, ou com o preocupar-se com a situação da outra pessoa, afirma a Irmã Catequista Franciscana, Darlene Francisca de Lima. Sim, as pequenas acções podem nos ajudar a mudar a realidade.

Ao concluir este encontro, os educadores comprometeram-se em colocar em prática algumas iniciativas, como por exemplo: acolher com alegria os alunos que chegam atrasados; usar exemplos inclusivos e priorizar uma educação inclusiva; ensinar valores por meio de dinâmicas de grupo; recriar letras de músicas para que sejam mais educativas; trabalhar com as pessoas a partir do contexto delas; fortalecer o respeito às diferenças, principalmente quando se fala de religião; e realizar encontros formativos com os encarregados de educação. “Com esses passos, acreditamos que juntos podemos promover a paz e termos uma sociedade mais segura”, concluiu o assessor José Samoko.

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