Votar, para quê?

“Lutamos para nada, o meu voto não conta para nada”; “Há votos comprados com o Kwenda”; “Eles não precisam do nosso voto, só precisam que cumpramos o papel de ir...

“Lutamos para nada, o meu voto não conta para nada”; “Há votos comprados com o Kwenda”; “Eles não precisam do nosso voto, só precisam que cumpramos o papel de ir até lá”; “Somos essa massa votante, mas parece que não servimos, há desprezo por nós” – Frases expressas pelos jovens que no passado dia 9 de Agosto, se juntaram no jango do Mosaiko, em Viana, para mais um Cidadania em Debate com o tema “Votar, para quê?”.

A escassos dias de ir às urnas a descrença e frustração impera entre quem sente que o seu voto, apesar de ainda não ter sido expresso na urna, é já vencido, esvaziado ou manipulado. Os facilitadores Ginga Patrícia, do Unidas Somos Mais Fortes e Reginaldo Silva, membro da Entidade Reguladora da Comunicação Social, não assumiram o papel de convencer os jovens, mas antes de apelar que apesar de tudo, e “por mais que o jogo já esteja viciado” votar é um direito imprescindível.

À ideia de sinalizar com um cartão vermelho, pelo apelidado “Voto em casa”, Ginga Patrícia questionou o impacto, visto que duvida que o país se mobilize, “não há ninguém a fazer campanha nesse sentido”. A feminista defendeu ser necessário que os cidadãos começem a agir em colectivo e organizados, conversando, pensando e observando os mecanismos. “Precisamos reclamar o poder para nós, falar de desenvolvimento e não exercermos uma cidadania activa é uma estupidez”.

Para a facilitadora, o apelo à união entre os cidadãos reflecte-se na noção de que o voto “é nosso” e deve ser usado para resolver os problemas de todos e de cada um. Já os jovens devem estar atentos às distrações criadas para dividi-los e desviar de factos como, a observação eleitoral, “o antes das eleições não está a ser observado”. 

“Não podemos descurar as causas da alienação, por pessoas pobres compactuarem com elites que não as respeitam”, ao invés de se insurgirem contra os mais vulneráveis por não resistirem às “ofertas” eleitoralistas ou classificá-los como inconscientes, os jovens que estiveram no jango do Mosaiko, foram incentivados a “concentrar a raiva na pessoa certa, precisamos conversar com quem discorda de nós” e perceber que a responsabilidade não reside em quem é pobre, mas sim, em quem instrumentaliza a pobreza.

As respostas ao tema de debate revestem-se de insatisfação generalizada entre facilitadores e participantes do debate, entendendo que apesar de tudo ainda vale fazer as lutas possíveis. Uns votando com esperança que algo mude, outros em casa ou votando pelo que continuam a acreditar. Com ou menos sentido, o voto não só dá que falar, como continua a mexer com as estruturas individuais e colectivas.

Apoio: MISEREOR

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