Proteger a vida é pensar África

Pensar África tendo como ponto de partida a vida, obriga a uma mudança total de paradigma, sobretudo num continente onde a dignidade e o valor da vida é praticamente inexistente....

Pensar África tendo como ponto de partida a vida, obriga a uma mudança total de paradigma, sobretudo num continente onde a dignidade e o valor da vida é praticamente inexistente. Isto foi o que motivou o  Mosaiko a realizar a Conferência Internacional Pensar África, nos passados dias 15 e 16 de Novembro, em Luanda.

Desde 1997 que o Mosaiko promove e defende os Direitos Humanos em Angola, são 25 anos invariavelmente marcados por histórias de pessoas que não só desconhecem os seus direitos, como se consideram desmerecedoras. Este sentir e olhar de si mesmos atravessa todas as classes sociais, muito embora, predomine entre as mais vulneráveis, esta condição de desumanizado/a vem de longe. Iniciada pela escravidão, cimentada pela colonização e perpetuada agora, por uma minoria endocolonial.

Cegos perante a realidade, esta minoria encontra-se na doutrina e práticas neoliberais que retiram lucro da vulnerabilidade e estabelecem modelos socioeconómicos que privilegiam a morte e destroem as estruturas produtoras de vida e bem-estar social. Mimetizando o modelo colonial, seguem a sua visão racista e castradora da identidade, dando continuidade ao plano de impedir que cada Africano/a se enxergue como ser integral.

O ser Africano morre entre a África imaginada e a real. Há uma que lista os recursos naturais, mas é incapaz de transformá-los a favor dos seus povos e a outra que corre para alcançar a refeição do dia, sem futuro, em luta pela sobrevivência num ambiente pronto a matar.

Nesta conferência, o olhar sobre si mesmos produziu constatações desconcertantes que tornaram obrigatório perspectivar esta dimensão interior dos factos económicos, sociais e histórico-étnicos. Quebrar o entorpecimento, assumir e respeitar a dor do esvaziamento do ser e recuperar a dignidade. Estas acções proferidas por cada um dos participantes tornou ainda mais urgente proteger e salvar a vida.

Não no abstracto de um colectivo homogéneo sem expressão, mas uma vida humana plena, sonhada sem barreiras discriminatórias, cuidada individualmente como valor irreparável e frágil, em interconexão com os outros e intersendo com a Natureza.

Apoio: MISEREOR

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