MCK propõe diálogo fecundo com novos intervenientes

Entrevista

MCK no Cidadania em Debate

O músico Angolano, MCK, esteve no passado dia 12 de Outubro, no Cidadania em Debate realizado pelo Mosaiko, ocasião em que perspectivou a arte como ferramenta de protesto.

No Cidadania em Debate, o tema foi Arte: Protesta com Proposta. Como se protesta com proposta?

O nosso país está a viver um paradigma de algumas alterações e durante muito tempo não era permitido que as pessoas falassem. Hoje temos uma plataforma que dá abertura ao diálogo. A minha proposta é que este diálogo seja fecundo e tenha novos intervenientes. Hoje, quando se fala em diálogo na sociedade civil, imagina-se que seja nos grupos juvenis dos partidos políticos, sindicatos, organizações não-governamentais e não na arte.

Concorda que a sua intervenção artística é marcadamente política?

Se admitirmos o que é proposto por Aristóteles, sim. Enquanto animal social, um ser inserido no seio de uma determinada comunidade com a preocupação natural de ver o exercício de cidadania realizado, nestes termos, sim. E sou de opinião que o homem é um animal essencialmente político.

Rap e política combinam?

O rap é dos poucos estilos musicais em que dá para fazer, com alguma naturalidade, este exercício intelectual de informação e formação de consciências, as lutas das revindicações e o exercício da cidadania. Com o rap temos muitas facilidades por causa das raízes históricas do estilo, que nos permitem uma abordagem intelectual.

Já recebeu alguma proposta de um partido político?

Sim, já recebi várias propostas de diferentes partidos, quer o da situação como da oposição. Mas é uma questão de tempo. Por enquanto isso não representa propriamente uma prioridade para mim, mas como disse, no futuro é bem provável que venha abraçar um projecto político.

Ao escolher a palavra Valores para titular o seu álbum, o que pretende dizer?

O álbum valores surge do acrónimo de Valor, Amor, Liberdade, Orgulho, Responsabilidade, Espiritualidade e Saúde.

O mercado cultural mostra-se cada vez mais dinâmico, pelo menos no que toca à música, mas ainda não é possível os artistas angolanos viverem apenas do que fazem…

Em Angola há poucos profissionais a viverem com dignidade só com aquilo que sabem fazer. Conheço juristas que têm uma placa na porta a indicar: “Vende-se gelo”; Há médicos que vendem sopa… Angola é um mercado muito disfuncional, as pessoas normalmente lutam para ter vários rendimentos porque os salários são muito baixos. Se considerarmos aquilo que é o custo de vida dos angolanos, principalmente para quem vive em Luanda que é, pura e simplesmente, a cidade mais cara do mundo.

É um filósofo de formação e nota-se uma certa profundidade no que canta. É resultado da sua formação ou das suas vivências?

A minha música é um retrato fiel daquilo que o dia-a-dia produz, desde os momentos mais alegres aos mais tristes. Também é o resultado das experiências que recebemos dos livros, dos filmes e, até mesmo, da convivência diária com as outras pessoas e outros povos. Quem investiga e lê histórias, facilmente consegue perceber que a nossa cultura africana tem um conjunto de valores que nos atrai a cantar.

Que apelo deixa à sociedade civil?

À sociedade civil e aos Angolanos no geral:  Aumentem a nossa cultura cívica e participem activamente nos assuntos que ditam o futuro do país.

O Cidadania em Debate tem o apoio da Misereor.

Por uma Angola Melhor!

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