Começou mais uma sessão da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos em Banjul, na Gâmbia, onde até ao dia 10 de Novembro, comissários, governantes e organizações da sociedade civil Africanas vão expor violações de Direitos Humanos que afectam um continente fatidicamente sem recursos.
Todos nós sabemos que os recursos naturais, para a maioria dos Africanos, é como se não existissem, pois por outro lado, quem realmente usufrui dos recursos naturais de África, age como se os Africanos não existissem. Para agravar, há que relembrar o que foi dito num dos discursos durante a cerimónia de abertura da sessão: Há Africanos que agem como estrangeiros em África.
Não gostam da terra onde nasceram, aspiram ser como outros, mas não estão dispostos a sacrificar o necessário para chegar onde esses outros chegaram. Assim, facilmente desbaratam recursos, roubam e vilipendiam direitos e condições que até admiram nesses outros que nada têm que ver com os Africanos.
Saindo um pouco da crítica comum sobre a má gestão dos recursos naturais, sobressaiu no discurso da presidente da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, Soyata Maiga, o recurso tempo, disponibilidade, o recurso humano tão útil para uma organização como a que preside e que depende muito da boa-vontade.
Nenhum comissário é pago para fazer o seu trabalho de analisar relatórios e fazer recomendações sobre casos, crises, violações e desumanidades que ocorrem todos os dias por todo este continente. Cada comissário disponibiliza o seu tempo e saber pela causa de todos os Africanos e mesmo com inúmeras limitações e fragilidades têm conseguido alguns progressos.
Numa compreensão quase unilateral da palavra recurso, parece que se desassocia o que se vê e é realidade em quase todos os países Africanos: que para assegurar assistência médica, condições sanitárias, emprego, educação de qualidade, justiça social, direitos… Não há recursos. Para reforçar e potenciar instituições que advogam o direito, a paz e a justiça, não há recursos.
Rendidos ao neo-colonialismo e esquecidos, em certa medida, dos poucos recursos usados para instituir o pan-africanismo, desconcertam-nos até certo ponto questões como: Onde estamos hoje? Como Africanos o que ainda podemos fazer por nós e para nós? Que legado deixamos aos nossos filhos e netos? Que futuro? Perguntava um representante do Malawi enquanto discursava na cerimónia de abertura.
A ideia de que para responder a estas questões dependemos de outros é assombrosa. Tal como a prisão em que nos colocámos e que reduz-nos a uma só noção de recurso, desconsiderando o recurso humano que à partida julgamos limitado, incapaz e viciado. Ainda há Africanos e Africanas que são recurso que dão o seu tempo e saber. Alguns estarão reunidos nos próximos dias para expor os problemas que localmente não conseguem resolver e esperam juntar os esforços de cada um em melhor, igual ou pior circunstância para produzir a mudança que tornará possível um futuro genuinamente sonhado por nós.