Félix Gaudêncio, director executivo da Associação Ame Nahame Omunu (ANO), defende a declaração de Estado de Emergência para a região sul de Angola.
“A verdade é que as pessoas estão a sofrer, e acho que era o momento de actuarmos e agirmos rapidamente, estarmos em estado de emergência”, considera o director, acrescentando que o estado de emergência na zona sul “deveria ser declarado já há muito tempo”.
Durante a Primeira Semana Social Diocesana de Ondjiva, sobre o tema: Desenvolvimento Sustentável, o dirigente da ANO conta que, na cidade de Ondjiva, “há famílias que já estão há dias sem água” e algumas delas recorreram recentemente ao director para pedir “um pouco da água”, que possui no reservatório residencial.
“Se na cidade de Ondjiva, onde encontramos pessoas que podem comprar água mineral, é assim, imaginem aquelas pessoas que se encontram nos lugares mais recônditos da nossa província?”, questiona.
O também sacerdote recorda que, há uma semana, realizou, com uma organização da sociedade civil, visitas a diferentes aldeias do município de Oukwanyama, tais como Okambada, Okafuka, Eko I e Eko II, onde as pessoas já não crêem que vão sobreviver à falta de água e alimentação, e, segundo o que relata, “já há pessoas que estão a apresentar alguns sinais de inflamação”, devido à fome.
“A situação é muito preocupante. Muito mais do que se pode imaginar!”, declara, deixando um apelo às pessoas de boa vontade para socorrerem “os seus irmãos”.
Quem também defende a declaração de Estado de Emergência para o sul do país é o Pe. Pio Wacussanga, director da Associação Construindo Comunidades (ACC), sedeada na Huíla.
Wacussanga, premiado “Defensor de Direitos Humanos 2018 da África Austral”, propõe a aprovação de “uma cesta básica alimentar” para cada pessoa afectada pela fome na região e a criação de cozinhas comunitárias e merenda escolar para as crianças.
“Não será fácil esperar até que haja aquedutos e barragens, sistemas e grandes condutas de água para as comunidades, isso não será agora, e a fome não espera. É preciso encontrar um termo médio para as pessoas não perecerem”, apela.
As “ajudas” não estão a resolver o problema
Madalena trabalha na comuna de Okafima, que dista a 60 quilómetros de Ondjiva, e diz que o apoio que está a ser dado aos necessitados não é adequado, pois a quantidade atribuída a cada família é insuficiente.
Segundo Tchipupulu que acompanhou, na comuna de Nehone, famílias com mais de cinco membros a receberem apenas um kilo de arroz para vários dias, “a pessoa já é pobre e recebe aquilo de uma forma humilhante. Isso dói”.
Convidada para falar na Semana Social sobre as estratégias do Executivo no Combate à Pobreza, Elizeth Kondyasili, directora do Gabinete provincial da Acção Social, Família e Igualdade de Género, afirma que os bens distribuídos para acudir a situação de calamidade na província “vêm de doações de pessoas, de benfeitores, não do governo”.
A dirigente critica o facto de a sua instituição estar a receber roupas usadas, sapatos e produtos similares, em vez de comida, para distribuir pelas famílias que padecem de fome e falta de água. “Nós queremos comida e estão a nos mandar coisas que não nos fazem falta neste momento de fome”.
Elizeth Kondyasili revela ainda que, em tempos, receberam “uma denúncia de uma das comunas, que viu os produtos que iriam acudir a sua situação, a serem desviados e vendidos” e exortou os presentes a denunciarem casos semelhantes.
“O povo está a gritar que a comida não está a chegar, porque os produtos são poucos. E todo o mundo quer mostrar a cara na televisão. Trouxe três toneladas e quer televisão para aparecer”, conclui.
Sobre a Semana Social Diocesana
A Primeira Semana Social Diocesana de Ondjiva foi realizada entre 12 e 14 de Agosto e reuniu representantes do Estado, de organizações da Sociedade Civil, religiosos, académicos, estudantes para reflectir sobre o Desenvolvimento Sustentável, por recomendação dos participantes da I Semana Social Nacional, organizada pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) e o Mosaiko, em Janeiro deste ano.
A Semana Social em Ondjiva contou com a co-organização do Mosaiko | Instituto para a Cidadania e o apoio da Misereor – Organização da Igreja Católica da Alemanha de Cooperação ao Desenvolvimento.
Juntos por uma Angola melhor!