Desvalores democráticos na Lunda Norte

Igualdade: Garantir que todas as pessoas que vivem no mesmo Estado tenham o mesmo valor, direitos e obrigações, sem distinção, sem favorecer uns ou prejudicar outros. “Somos culpados por nascer...

Igualdade: Garantir que todas as pessoas que vivem no mesmo Estado tenham o mesmo valor, direitos e obrigações, sem distinção, sem favorecer uns ou prejudicar outros.

“Somos culpados por nascer em determinada terra ou por fazer parte de certa tribo”, este relato é de um homem tchokwe que explica que no Cuango, na província da Lunda Norte, a maioria da população é tchokwe, mas é marginalizada. Já outras etnias minoritárias são empoderadas,  como é o caso dos Bamgla (Imbamgla), os Bassuco, os Kadji, os Holo e até os Pende (que entre os séculos XVIII e XIX fugiram para o Congo e, ultimamente, regressaram para garimpar), são usados para “facilitar o comboio passar”, hostilizando os tchokwes.

Liberdade: As pessoas devem usufruir de liberdade de pensamento, expressão, associação, assembleia, manifestação,  voto…

Apesar de serem maioria, os tchokwes vivem num ambiente descrito como “vigiar para punir”. Em casa, no trabalho ou na igreja, são controlados “por pessoas que você não contava, é complicado”. Há um estímulo patente à bufaria e quem “não veste a camisola certa” é visado. O apelo das vítimas dos desmandos não tem consequência e quando recorrem às instâncias judiciais, ainda ouvem: “vocês tchokwes…”.

Justiça Social: Os bens da sociedade devem ser distribuídos de forma a minimizar as vulnerabilidades da população.

As etnias minoritárias no Cuango “têm privilégios e são aceites nos trabalhos” ao passo que os tchokwe são limitados no acesso a cargos públicos e a oportunidades que parecem reservadas apenas a alguns.

Respeito: Fundamenta valores como a liberdade, igualdade, justiça, tolerância e garante relações interpessoais harmoniosas.

A instrumentalização das etnias minoritárias evidencia desrespeito, além disso, despreza-se a história e cultura dos povos quando se nomeiam reis e sobas sem linhagem ancestral. Hoje, no Saurimo, há dois reis (matchissengue), um da cidade, ligado ao governo e outro do bairro que “está com o povo, mas não tem voz”.

Pluralismo: Aceitar uma sociedade plural e diversa, onde convivem harmoniosamente ideologias, visões, filosofias, partidos, crenças diferentes.

“Vivíamos juntos, até havia cruzamento entre etnias”. Durante a guerra civil uns lutaram pelo MPLA e outros, pela UNITA. Desde 2002, permanecem divididos, os da oposição são ostracizados e quem tem um pensamento crítico é tido como pária. “Eu sou verme então acham que podem ameaçar, roubar ou mesmo matar-me.”.

Apoio: MISEREOR

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