Autarquias podem acabar com o desemprego?

Formação

Auatrquias Locais

Os municípes dos Dembos, na província do Bengo, estão preocupados com o nível de desemprego, tanto que durante a Formação sobre Autarquias Locais, facilitada pelo Mosaiko, a eficácia do poder local na resolução deste tipo de problemas foi questionada.

Vieira Sebastião, de 31 anos, está desempregado e lamenta a falta de oportunidades de emprego para os jovens, no seu município. “Tenho o Ensino Médio feito. Terminei em 2014 o curso de Ciências Humanas no Liceu Municipal dos Dembos”, revela o jovem que sonha ser professor do Iº Ciclo, tendo já tentado “várias vezes” concorrer para alguma vaga no sector da educação, mas, até ao momento, não teve sucesso.

“Nos concursos para as escolas do município os que aprovam são os que vêm de Luanda, e quando aprovam só vêm dar aulas dois ou três dias, por semana, no resto dos dias os alunos ficam prejudicados, sem aulas”, denuncia ainda que “se a vaga fosse nossa, como nativos, isso seria diferente”.

Entretanto, o responsável por uma família com três filhos,  Vieira Sebastião admite que esforça-se para “fazer alguns biscatos nos campos de cultivos dos outros, quando me aparece alguém que tem algum dinheiro”. Mas ainda alimenta o sonho de frequentar o ensino superior em Direito e aponta a ausência de uma universidade no município, o que na sua opinião, impossibilita os jovens de prosseguirem os seus estudos.

Acelerar crescimento económico

À margem da Formação sobre Autarquias, o administrador municipal dos Dembos, Manuel Mateus, considerou normal que o nível de desemprego seja alto, por ser este um “município rural”, mas garante melhorias nos próximos momentos, atribuindo a causa do desemprego à falta de energia eléctrica, fornecimento de água e mau-estado das vias de acesso, como também, de investimentos privados.

Manuel Mateus avançou ainda que o grande empregador no município é o Estado, nos sectores da educação e saúde. As carências  que o município apresenta não atraem “a implementação de indústrias que poderiam dar lugar a empregos ou outras iniciativas e oportunidades para que os jovens se tornem empreendedores”.

Questionado se as autarquias poderão trazer melhorias ao seu município, o administrador acredita que “pode ser que possamos acelerar um pouco mais o crescimento económico do nosso município. Então, devemos ter esperança no processo, nesse dinamismo e capacidade de podermos ser mais rápidos que antes, no antigo sistema”.

“Nós quase ou nada temos, o nosso sector económico ainda é muito débil e se formos apontados para estarmos na primeira fase do processo, ese caminho vai levar-nos a romper com todas essas barreiras [dificuldades] que se apresentam no nosso município”, admitiu.

Autarquias Locais

Gerar emprego localmente

Barros Manuel, um dos facilitadores da formação, crê que com as autarquias o número e a qualidade dos empregos nos municípios vão melhorar.

“Vai melhorar e deve melhorar, esse é um dos objectivos da implementação do poder local: promoção do emprego nos municípios”, afirmou o advogado.

O facilitador disse ainda que “os autarcas deverão ser suficientemente competentes e criativos para atrair investimentos e fomentar o empresariado local”, bem como, criar empresas públicas ou de parcerias público-privadas para a satisfação das necessidades locais, “e isso vai gerar empregos”, concluiu.  

Formação sobre Autarquias Locais nos Dembos

Sobre a Formação

A Formação sobre Autarquias Locais foi uma iniciativa da Comissão de Justiça e Paz da Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus dos Dembos, e aconteceu entre 30 de Maio e 1 de Junho, na Vila de Quibaxe, sede municipal.

O encontro teve a participação de professores, membros das comissões paroquiais de justiça e paz e de comunidades religiosas, representantes da administração local, autoridades tradicionais, estudantes e membros da Comissão Municipal Eleitoral.

“Já  que somos um país democrático, as autarquias podem trazer mais liberdade de expressão e contacto directo do povo com os governantes eleitos”, espera Joana Feliciano, participante seminário, em representação da Comissão Municipal Eleitoral.

A formação foi facilitada por uma equipa do Mosaiko constituída pelo advogado Barros Manuel (convidado), a coordenadora da Biblioteca Mosaiko, Cecilia Prudencio, e o jornalista António Gonga.

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