Uma “evidente rebelião” com “manifestantes portadores de armas de fogo tipo AKM, caçadeiras, ferros, paus e outras armas brancas, bem como, pequenos engenhos explosivos artesanais,… em direcção à esquadra policial do Cafunfo”.
Objectivo: “ocupação efectiva com perspectiva de aposição de uma bandeira”, “causar baixas ao efectivo das forças de defesa e segurança”.
Resultado: Dois oficiais feridos e vandalização de uma viatura estacionada.
Estes são os primeiros trechos do comunicado de imprensa da Polícia Nacional, emitido no dia em que o movimento Protectorado Lunda Tchokwe marcou uma manifestação pacífica que acabou com vários cidadãos, pelo que as imagens indicam, desarmados, mas baleados pelas autoridades de segurança e defesa. Contam-se, pelo menos, 15 mortos.
Depois de ler estas primeiras linhas do comunicado, fica a questão: Como 300 pessoas, supostamente armadas até aos dentes, invadem uma esquadra e ferem apenas dois oficiais? Por outro lado, como é concebível narrar em comunicado de imprensa uma história em que a polícia, mesmo depois de ter sido informada oficialmente pelos organizadores da manifestação, tal como manda a lei, é surpreendida por 300 pessoas?
Nos restantes parágrafos, tecem-se mais considerações questionáveis e recomendações que os redactores deste comunicado precisam, certamente deixar de resignificar. O apelo aos cidadãos “para que não ponham em causa a ordem e tranquilidade pública, bem como a estabilidade social”. É em si, um incitador à mobilização.
Só dá para entender que quem redigiu o comunicado, não sabe o que significa estabilidade social nem como se materializa. É impossível… Mas vale relembrar como vivem as suas famílias, afectadas pelo desemprego ou pelo emprego precário, pela falta de condições básicas. Sim, terão familiares que são obrigados a percorrer quilómetros para encontrar água potável e que vivem às escuras, sem energia em casa ou nas ruas sem asfalto.
Os familiares destes agentes de defesa e segurança habituaram-se a assistir sem falar, à vinda dos exploradores de diamantes; ao desalojamento de vilas; à destruição de lavras; ao desvio dos rios; exumação de corpos; e também terão sido proíbidos de passar por lugares, antes seus e dos seus ancestrais…
No fim, o comunicado evoca a Constituição e a Lei Angolana. Mas mais uma vez falam do quê? Se fazem o contrário do que diz a Lei Suprema, a Constituição: “Angola é uma República soberana e independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade do povo Angolano, que tem como objectivo fundamental a construção de uma sociedade livre, justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social.”
O povo Angolano somos todos, independente da filiação partidária ou dos altos cargos. A nossa vontade é termos uma Angola melhor para todos. Não queremos lutar uns contra os outros, até porque o plano de colocar, pobre a lutar contra pobre, continua a favorecer e enriquecer apenas um grupinho silencioso e demasiado protegido.
Paz ao povo morto na Lunda Norte, no dia 30 de Janeiro de 2021!
Mandele Rocha