“Governo prioriza o que não é prioritário”

Formação

Benguela - Cubal

Cidadãos em Benguela denunciam que acesso à água potável, energia e escolas condignas continuam a não ser prioridade do governo.

O Mosaiko voltou aos municípios de Benguela e Cubal, após o período de confinamento e cerca sanitária, para reiniciar o ciclo de formação de Educação para a Transformação. Nesta ocasião, os formandos, isolados há mais de seis meses, listaram as falhas do governo sentidas ainda mais durante a pandemia.

“O saneamento básico é precário, existem muitos bairros que não têm água potável, escolas nem energia. Como, por exemplo, os bairros da Cambangela, do Cawango, da Mina”, denunciou Agostinho Xavier, de 25 anos, frisando que o que mais se vê é a construção de edifícios.

O estudante universitário revelou a insatisfação no seio da população, “porque há problemas que já existem há muitos anos. E se o governo diz que está a fazer alguma coisa, certamente não são as prioridades locais. O governo prioriza o que não é prioritário.”

Para ajudar a resolver, o jovem sugeriu que os cidadãos e as organizações da sociedade civil sejam mais envolvidos na elaboração das políticas públicas, principalmente na realização do Orçamento Geral do Estado (OGE). “De certa maneira, todos nós sairíamos a ganhar”, reforçou.

Cecília Ezequiel é munícipe do Cubal e considera que a maior prioridade do município deveria ser a distribuição da água potável, sobretudo nesta altura da Covid 19. “O que nós queríamos mesmo é a água, mas nem no anterior nem no OGE revisto consta a despesa para distribuição de água para as famílias do município”.

Além disso, a munícipe mencionou também a questão do acesso à Educação, quando ainda “há alunos que assistem às aulas por baixo das árvores e neste tempo de chuvas, por falta de tecto, as dificuldades têm sido maiores”.

Ainda quanto à Educação, o professor Mateus Cassinda, membro do Núcleo Dinamizador de Direitos Humanos do Cubal, referiu que “a cerca de 40 quilómetros das sedes das comunas, como por exemplo, na Capupa, há pessoas de 30 ou 40 anos que nunca viram um professor à sua frente, e os seus filhos também não estudam, porque não há escolas perto nem o governo enviou lá professores”.

Para o profissional de Educação há mais de 30 anos,  a solução passa por um trabalho conjunto entre o governo e os cidadãos na elaboração e fiscalização das acções do Estado a nível do município.

Sobre as formações

A formação sobre Governação Participativa e Advocacia decorreu, entre 12 e 16 de Outubro, no Bairro da Graça, com a participação de 17 pessoas. No encontro que marcou o 4º módulo de formação, os participantes reflectiram sobre a participação na vida pública e na tomada de decisões, estratégias de advocacia social, políticas públicas e o Orçamento Geral do Estado.

No mesmo período, uma outra equipa do Mosaiko esteve no município do Cubal, onde facilitou o 5º módulo da formação “Training for Transformation”. Na ocasião, os participantes abordaram o tema: Prioridades Orçamentais e Redistribuição.

As duas formações fazem parte do ciclo de formação de Educação para a Transformação, com duração de dois anos, no âmbito do Projecto Promoção da Advocacia de Políticas Públicas Inclusivas em Angola, implementado pelo Mosaiko, em parceria com a Fundação Fé e Cooperação e o apoio da União Europeia e do Instituto Camões.

Juntos por uma Angola melhor!

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