As palavras são do professor Nelson Pestana Bonavena, durante o Cidadania em Debate, no sábado, 13 de Abril, realizado na sede do Movimento Hip Hop Terceira Divisão, localizada no bairro Eco-Campo, no município de Cacuaco, subordinado ao tema “Existe Paz com Fome?”.
Bonavena partilhou a mesa de discussão com a estudante e activista social, Ruth Kaneketela e moderação de Engrácia Marques, coordenadora de departamento de justiça e direitos humanos do Mosaiko.
Marcando o início da discussão, Kaneketela começou por trazer os conceitos de fome como uma necessidade biológica que está no nível mais alto das hierarquias das necessidades humanas, que leva ao stresse e à falta de tranquilidade. Enquanto que a paz não se resume à ausência de guerra, incide também, na presença de justiça e solidariedade. Segundo a activista, com a definição destes conceitos, percebe-se que se Angola está entre os países com elevado índice de pobreza extrema, não é possível ter paz efectiva.
Ainda na sua abordagem, a activista social falou das insuficiências de iniciativas governamentais como a criação do canal do Cafu e do programa Kwenda, por não reflectirem a realidade das famílias angolanas e notou a ausência de políticas públicas ligadas à distribuição de riqueza às comunidades nas zonas de exploração de recursos naturais, falta de condições de escoamento dos produtos agrícolas, entre outros.
“Em nenhuma parte do mundo existe paz com fome, há falta de vontade política do Governo angolano em criar políticas funcionais para combater a fome e a pobreza”, revelou Ruth Kaneketela.
Por sua vez, o professor Bonavena relembrou o processo de paz para realçar que o regime político que até hoje está no poder, fez opções que levaram à manutenção de paz militar, muito embora o entendimento do Lwena não tenha eliminado a guerra em todo o território nacional, tal como demonstra Cabinda hoje, onde existem relatos de conflitos.
“Angola conserva desigualdades sociais grandes. Só fizemos a libertação militar e política, não fizemos a libertação social e, como consequência, hoje temos 92% da população a viver em pobreza extrema, 6% na classe média e apenas 2% na classe alta” constatou o professor, alertando também, para a existência de uma elite que usa o calar das armas como troféu pessoal.
Durante as intervenções, as participantes e os participantes do debate chegaram à conclusão de que a fome tem sido usada como arma para a não participação e a exclusão dos cidadãos nas tomadas de decisão e no desenvolvimento. Muitos destacaram o facto de, nos últimos tempos, as pessoas com problemas mentais não serem as únicas que procuram restos de comida nos contentores de lixo, uma realidade que segundo relatos dos mais velhos, não se verificava nem na colonização nem durante a guerra civil que apesar dos problemas e limitações, havia comida. Algo que é mais difícil agora com a independência e a paz.
Apoio: MISEREOR