Kalawenda
Na sala bem organizada, as equipas chegam e logo se colocam com olhar atento no caderno e o rosto feliz de quem veio para aprender, é assim que os estudantes da nona classe da Escola Santa Marta e da sexta classe da Escola Santa Madalena, ambas do município do Cazenga, demonstraram o quão valiosa foi a experiência da dinâmica do Jogo Didáctico sobre os Direitos Humanos em Angola, aplicado pela equipa do Mosaiko | Instituto para a Cidadania.
Durante este mês de Junho, mais de 500 estudantes de 14 escolas públicas e privadas tiveram a oportunidade de aprender na prática sobre a importância dos Deveres e dos Direitos Humanos que todas as pessoas têm. Foram quatro semanas de bastante aprendizagem, de interesse pelo conhecimento, afirma a professora de Moral e Cívica, da Escola Santa Marta, Claudete Chivinda.
A professora comenta que a partir dos jogos as crianças começaram a trazer situações de violação dos seus direitos, alguns chegaram a nos contar que em casa sofrem abusos por parte dos adultos. A nossa preocupação é como mudar essas situações?, questiona Claudete.
Cheia de esperança, ela acredita que a dinâmica dos jogos aplicados na sala de aula vai ajudar as crianças e as famílias a mudar de comportamentos, mesmo com as dificuldades que vivem. Nós precisamos de incentivar essas crianças e jovens a focarem-se no que é bom, na educação e na formação para conquistar os seus objectivos, aconselha a professora.
Segundo a Directora da escola Santa Marta, Maria Concepción Mejia Rivera, o envolvimento de cada estudante e da professora que acompanhou esta actividade foi muito importante para escola, notamos que esta experiência tem ajudado os alunos a se darem conta que os direitos e deveres precisam ser exercidos em todos os espaços, comenta.
Certamente este conhecimento vamos levar para toda vida, assim falou a jovem estudante da nona classe, Maria Vieigas Varela. Ela nos contou sobre a experiência de participar de uma das equipas do jogo didáctico. E com clareza foi nos dizendo o que pensa sobre os direitos humanos. O Mosaiko questionou: O que são Direitos Humanos?
Maria: São todos os direitos que o ser humano tem, principalmente o direito de viver bem.
Mosaiko: Um sonho que tens para o futuro e o futuro do teu bairro?
Maria: Quero ver todas as crianças com direito à educação, para termos um País desenvolvido com justiça.
Este mesmo sonho também alimenta a esperança do Cláudio Eliseu, que tem 16 anos e também está na nona classe. Para ele o futuro do País depende da educação, no bairro vejo muitas crianças que não frequentam a escola, os pais não ajudam muito. Isso não é bom!, afirma o estudante que demonstra preocupação com o futuro dos seus amigos.
Mesmo que este direito esteja prescrito na lei, ainda assim, falta cumpri-lo plenamente. Mas, a confiança em dias melhores é o que faz as pessoas acreditarem que para construir uma Angola melhor é preciso investir nas crianças, valorizar o que cada uma sabe e compartilhar o bem, estas são as atitudes que o subdirector pedagógico da Escola Santa Madalena, Ladislau Mariano, reforça. Este jeito de aprender sobre Direitos Humanos, a brincar, fez com que nas equipas as crianças falassem mais. Ali, elas puderam expressar melhor os seus pensamentos, destaca o subdirector. Ele acredita que a continuidade deste tipo de actividade é valiosa para o desempenho dos estudantes.
Também para o professor Paulo Escrivão que acompanhou directamente as turmas durante as quatro etapas dos jogos, o reconhecimento de que a outra pessoa tem os mesmos direitos e deveres que qualquer outro ser, é o que marca a experiência deste jogo. Foi uma actividade muito boa! A dinâmica e interação que o Mosaiko trouxe, ajudou as crianças a conhecer sobre os Direitos Humanos, ressalta. Ele comenta que este tipo actividade deve ser contínua, e sugere, seria bom que houvesse cartilhas que apresentassem todos os Direitos Humanos, pois, neste jogo foram-nos apresentados apenas 18 dos 30, que temos conhecimento, enfatizou o professor.
Um Direito de todas as pessoas: Expressar o que pensa
Sim. São 30 Direitos Humanos básicos que a Organização das Nações Unidas declarou durante a Assembleia realizada em 10 de Dezembro de 1948, esta é uma informação que as crianças repetiram continuamente, enquanto a coordenadora da Biblioteca Mosaiko, irmã Cecília Prudêncio aplicava o jogo na sala. A dinâmica da viagem pelas províncias do mapa de Angola, onde cada lugar representa um direito, ajudou os alunos ampliar o conhecimento sobre geografia e mais ainda, sobre os Direitos Humanos.
Com habilidade de quem realmente sabe o que está a dizer, o estudante da sexta classe da Escola Santa Madalena, Lourenço João Cassua Manuel, fala: Um direito que gostei de aprender foi que todos nós temos o direito à igualdade. E a Irmã Cecília pergunta: Em qual artigo está este direito, Lourenço? Sem demora ele responde: Este direito está no artigo primeiro da Constituição.
Que bom seria se os Direitos das pessoas também fossem cuidados e valorizados com esta mesma intensidade e rapidez. Mas infelizmente, muitos nem sabem que têm Direitos, nem se quer de pensar livremente ou fazer escolhas. Este é o exemplo da estudante da sexta classe, Maurete Adão Eduardo. Antes deste jogo dos Direitos Humanos, eu não sabia que temos direito de escolher, por exemplo, a nossa religião, disse a estudante. Maurete conta que sonha com um futuro onde todas as pessoas possam expressar as suas opiniões livremente sem sofrer injustiça. Assim, como Maurete, os demais estudantes também puderam expressar quais os Direitos que mais gostaram de aprender durante as quatro etapas da actividade. E ao encerrar o jogo, cada aluno recebeu uma estrela com os dizeres: Eu defendo os Direitos Humanos.
Que o envolvimento pelas causas dos Direitos Humanos despertado nos estudantes possa continuar, que os sonhos de dias melhores seja constante em cada pessoa que participou especialmente desta actividade promovida pelo Mosaiko.
Nesta última semana de Junho, que marca o encerramento do Jogo didáctico sobre os Direitos Humanos em Angola, uma das facilitadoras desta actividade, irmã Cecília Prudêncio fala sobre esta experiência e as perspectivas: Primeiramente destacamos a resposta positiva dos mais de 500 estudantes e professores, directores das 14 escolas seleccionadas, a cada semana estavam a nossa espera com muita expectativa. Também a metodologia aplicada – aprender brincando nos mostrou que não é preciso fazer grandes coisas, é apenas criar espaços de aprendizagem que todos se envolvam. E a interação dos alunos foi muito importante! Para dar continuidade, em Julho vamos avaliar todo o trabalho das equipas, o material usado e pretendemos criar um plano de formação contínua.
Lembramos que a dinâmica deste jogo não é apenas propriedade do Mosaiko, ele pode ser usado por quem tiver interesse. O que importa é que mais pessoas conheçam sobre os Deveres e Direitos Humanos, conclui irmã Cecília.
Este jogo faz parte das actividades de comemoração dos 20 anos do Mosaiko