Participantes do primeiro Cidadania em Debate do ano de 2021
O advogado Benja Satula, convidado do Cidadania em Debate, no sábado, 23, além do tema: As consequências da corrupção, falou também dos que se transvestiram para se auto-imunizarem.
Neste sábado, o Cidadania em Debate, voltou ao jango do Mosaiko em Viana, onde, respeitando as medidas de biossegurança, acolheu cerca de 40 jovens. A quem, Satula começou por recordar as consequências da corrupção.
Desde um sistema de solidariedade social inexistente, à falta de creches públicas, hospitais suficientes e apetrechados, escolas públicas de categoria, à ausência de qualidade de vida… O advogado descreveu desta forma, o dia-a-dia da grande maioria dos Angolanos, conhecido e vivido por todos os presentes.
A indignação marcou o tom do orador, mas também foi um sentimento transmitido nas intervenções de diferentes participantes. Uns assumiram que a corrupção afecta e é facilitada por todos: “Não podemos entregar o envelope para passar no exame e chamar corrupto aos outros”. Outro, confessou-se desmoralizado quando tentou impedir um acto de extorsão, cometido por um agente policial e “fui espancado, por isso, pergunto quem me vai proteger se eu denunciar?”
Satula apelou à bravura da juventude, mas sabe que o desafio dos jovens Angolanos que procuram traçar um caminho diferente, é grande. A indignação e a frustração aumentam quando, assistem em horário nobre, a tentativa de branquear os crimes cometidos e de desassociar o saque do erário público da miséria do povo Angolano.
“Assim, está bem? Fica tudo bem?” perguntava um jovem na assistência, sobre o destino dos que se lambuzaram no “banquete público” e hoje, dizem-se combatentes da corrupção. Questionando ainda, se é suposto haver perdão para estes que só mudaram o discurso.
“Ter vergonha na cara”
Benja Satula respondeu, referindo que o “combate à corrupção não se faz só com a narrativa” e muito menos com operações meramente de charme. Concordando que para muita gente que mudou apenas o discurso, “o silêncio deveria ser de ouro”.
É preciso “recordar às pessoas, a vergonha que devem ter na cara, por terem defendido e feito parte de um sistema que nos trouxe até onde estamos”, defendeu o advogado, admitindo, também que nem é sequer crível que um “bajulador do antigo sistema, acorde hoje arauto de um novo sistema e paradigma”.
“São pessoas transvestidas, tornaram-se os arautos da transparência e do combate à corrupção. Antes ninguém queria democracia e de repente já são democratas. Não é possível dormir ditador num dia e no dia seguinte acordar democrata”.
Satula denunciou que “há imensa gente transvestida, que segue uma lógica de substituição de grupos que continua a não estar preocupados com o povo”.
E sobre como tratar os corruptos, Benja Satula mencionou a justiça restaurativa da África do Sul, o modelo do comprometimento da Arábia Saudita e a ideia de introduzir o trabalho comunitário no nosso sistema penal, exigindo que façam transformação na comunidade às custas dos prevaricadores.
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