Mulheres da Igreja e o 08 de Março

Artigo de opinião

Mulheres da Igreja

Imagem ilustrativa- arquivo internet

Celebrar o dia 08 de  Março tem diferentes sabores para mim. Sabor de agradecimento por todas as mulheres que me antecederam e que comprometeram as suas vidas com o tornar audível a voz das mulheres no mundo;  Tem sabor de festa pelas conquistas no decorrer da história, parece estranho, mas sendo verdade que os direitos são conquistas históricas para a humanidade, no caso da mulher sempre teve um extra e só deixo como exemplo, o direito ao voto; Porém, tem sabor amargo porque ainda estamos longe de ser efectivamente reconhecidas como iguais em dignidade, ser ouvidas e tidas em conta na hora de pensar o mundo, a sociedade e a Igreja.

Sou mulher, sou cristã, amo profundamente a Igreja. Na igreja descobri que a vida vence a morte, que nenhuma violência pode ser combatida com violência, que as mulheres fomos chamadas para seguir e servir Jesus.

Assim, vivo com dor quando vejo que pelo facto de ser mulher, sou excluída das decisões  importantes que a Igreja toma naquelas reuniões, onde o que vemos, é só um grupo de homens a pensar e decidir pela vida da Igreja que na sua maioria está formada por mulheres…

Este ano, recebemos a “grande notícia” de que as mulheres agora podem exercer o acolitado e leitorado – servir na eucaristia – grande notícia? Sim, porque “legitima o que já fazemos há tanto tempo”, mas como é possível que só agora, no século XXI seja reconhecido o nosso direito a servir no altar?  Porque ainda é preciso um decreto que nos permita servir?

Como mulher na Igreja, muitas vezes senti-me convocada para reproduzir os estereótipos da sociedade (mãe, dona de casa, humilde), poucas vezes, a mulher é considerada em todas as suas dimensões: a sua liderança, a inteligência, o seu profissionalismo… Queremos ser consideradas como adultas na fé, como iguais nas decisões, queremos não só ser ouvintes, queremos ter voz e que a nossa voz seja reconhecida.

Celebrar o dia 08 de Março, como mulher cristã leva-me a comprometer-me com tantas mulheres que no mundo inteiro, estão a lutar para que o reconhecimento da nossa dignidade não seja mais uma declaração de princípios, mas sim, uma prática que nos permita viver com plenitude, que nossa voz seja ouvida, que quando se pense nas reformas que a Igreja precisa se oiça e considere a opinião das mulheres. Por isso estamos juntas até que a igualdade seja um costume na Igreja.

Irmã Cecília Prudêncio

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