Estalagem: Um distrito que ninguém vê

Há mais de cinco anos que as ruas do distrito da Estalagem, em Viana, inundam sempre que chove e que em alguns pontos, as águas paradas duram semanas ou meses...

Há mais de cinco anos que as ruas do distrito da Estalagem, em Viana, inundam sempre que chove e que em alguns pontos, as águas paradas duram semanas ou meses até secar, mas ninguém vê. No passado sábado, 13, com expectativa de mudar essa rotina, o Cidadania em Debate, no jango do Mosaiko foi espaço de partilha de ideias e soluções para um distrito ignorado por todos, sobretudo pelos responsáveis públicos.

“O problema é que eles não vivem aqui! O que os olhos não vêem, o coração não sente”, constatou um dos moradores, que também ficou a saber que Demétrio Sepúlveda, administrador municipal de Viana, esteve no distrito para uma reunião, numa altura em que choveu muito e as ruas estavam inundadas. Contudo, para chegar ao local, Demétrio Sepúlveda não só não quis ver, como recusou passar de carro pelas ruas inundadas e “entrou pela Madeira”.

A coordenadora do sector sector da comissão de moradores, Beatriz Ganga, que esteve presente no debate, além de ter confirmado a presença do administrador na Estalagem, assegurou que nos encontros em que tem participado no governo provincial, a situação do distrito é conhecida pelo governador provincial de Luanda, Manuel Homem. Além disso, no Orçamento Geral do Estado de 2023, constavam verbas alocadas para o melhoramento de algumas vias no distrito, aparentemente só ficaram disponíveis quando começou a época de chuva e por isso, não iniciaram qualquer obra…

Até então nenhum dos moradores presentes no Cidadania em Debate viu melhorias, muitos em desespero, tentaram improvisar, colocando pedras, entulho para tapar os buracos que quando chove se transformam em lagoas, no entanto foram impedidos pela administração municipal. Entre os presentes foi discutida a ideia de envolver o comércio local, nomeadamente os donos de armazéns, apelando à responsabilidade social.

Não há nenhum morador ou moradora do distrito da Estalagem que não esteja já cansado de regularmente ter que mergulhar os pés na água suja, na lama ou no lodo, de ver as suas casas inundadas de água, bens danificados, doenças… Nem mesmo os que lá trabalham, escapam. A esquadra da polícia inunda e fica inoperacional. As escolas públicas 5008 e 5108 fecham 15 dias a fio. A Escolinha da Paz, o colégio das Teresianas fecharam várias vezes devido às chuvas.

Entre todos os presentes reconheceu-se que a situação do distrito da Estalagem é insustentável, contudo são ainda poucos os que agem ou fazem-no isoladamente. O desafio é dirigido aos detentores de cargos públicos para que parem de ignorar os cidadãos, sejam responsáveis e tenham a coragem de ver e sentir como vivem os munícipes. E que cada cidadão e cidadã que mora ou trabalha no distrito,  intervenha com sentido de comunidade, envolvendo e desenvolvendo iniciativas que reivindicam e fiscalizam o bem-estar de todos e todas.

Apoio: MISEREOR

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Construindo Cidadania 691 – Ilícito de mera ordenação social, transgressões administrativas e infracção de trânsito