A citação foi retirada de um encontro sobre os Processos de Democratização e Desenvolvimento em Angola e sem mencionar quem disse, para não poluir as mentes, algo que acontece, sempre que se identifica a pessoa e o seu partido. Importa começar pela análise da paradoxal ligação entre processos de democratização e o desenvolvimento do país.
No encontro, por processos identificou-se a criação de leis para acolher um regime democrático e os sufrágios realizados em Angola, mas a participação na tomada de decisões extra voto, tal como o debate exaustivo de ideias concretas de governação, ainda não fazem parte. Pelo que ligar estes processos democráticos ainda incompreendidos, incompletos e não contextualizados à ideia de desenvolvimento é contrária às “tentativas” de implementação da democracia em Angola, a palavra certa seria retrocesso.
Até porque as evidências emanam da prática: a substituição da primeira pela segunda Constituição da República de Angola. As sucessivas alterações da lei eleitoral, o desinteresse quer pela educação cidadã, quer pela implementação real de uma cultura democrática. A assunção teórica e interpretação errónea dos conceitos democráticos, o esvaziamento e aproveitamento perverso desses mesmos conceitos e o uso de procedimentos democráticos para manipular ou inviabilizar qualquer alternativa, projectando uma falsa imagem externa.
Para o desenvolvimento do país precisamos de uma democracia nossa, adaptada e contextualizada, respeitada e protegida por todos e de todos os que tentam usá-la para interesses inconfessos. Para que isso aconteça, é necessário descomplicar o conceito, aproximá-lo à realidade das pessoas e levá-las a interiorizar que não sendo um sistema perfeito, é o que mais potencial tem para assegurar oportunidades, direitos e de fazer coexistir diversas vozes.
Escutar o outro de ideia, etnia, cor diferente e desenvolver confiança que se funda em acções que transformam a realidade de todos, são aspectos fulcrais para a democracia. Estas duas palavras são muito bem entendidas e valorizadas, sobretudo no jango, o hemiciclo que congrega o povo e os seus representantes (infelizmente ainda muito dominado por homens). A autoridade responsável pelo jango tem por obrigação ouvir as causas, cada lado divergente, dirimir os conflitos, encontrar consensos e aconselhar-se antes de tomar decisões com o dever de fazer tudo isto para o bem viver em comunidade.
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