Dia Nacional do Educador

Situações e reflexões

O País celebra a 22 de Novembro o Dia Nacional do Educador. Este dia faz-nos reflectir sobre o papel do educador na sociedade e, hoje, sobre as implicações sociais da sua actividade na construção de um mundo mais moderno e globalizado.

Quem é o educador (a)?
Aqui, e na perspectiva da instituição da efeméride, o educador ou educadora é a pessoa que se dedica ao ensino sistemático, escolar, na transmissão de saberes técnicos e teóricos à nova geração (estudantil). Portanto, este é o ilustre professor ou a famosa professora.

O educador tem sofrido muitas dificuldades no exercício das suas actividades laborais. Este quadro é apresentado, de modo específico e com base nas suas experiências, pelos gestores, professores e estudantes do município do Quela, província de Malanje. Porém, interessa-nos citar os professores por serem os educadores.

O problema do atraso do salário, a ausência de condições necessárias para o ensino, os professores que leccionam disciplinas sem formação na área, a corrupção, o fraco aproveitamento dos estudantes e a distância acentuada entre as zonas de residência e a instituição de ensino, são alguns dos problemas que os professores, no Quela, têm vivido, e, tal como lá, em muitos municípios do território nacional.

Ninguém faz bem o seu trabalho sem a devida remuneração, mesmo que a pessoa ame fazê-lo. Jorge Mateus, professor da Escola de Formação de Professores Comandante Cuidado, do Quela, afirma que a maior dificuldade é trabalhar sem ter nenhuma remuneração.

Quando se trabalha sem remuneração condigna, ou segundo o vínculo laboral, o educador (professor) torna-se mais propenso a tomar atitudes não muito acertadas, e não éticas, como as faltas injustificáveis e a corrupção, só para citar duas.
O outro problema reside na ocupação de cadeiras (disciplinas) para leccionar, mesmo não tendo formação para o fazer. Esta situação é muito mais comum nas escolas comparticipadas e colégios, mas as públicas, sobretudo nas zonas recônditas do País, também não escapam disso.

Eu sou formado em Pedagogia e sou professor de Introdução ao Estudo do Direito, disse um dos professores daquela escola. O que, pelo que se percebia, parecia-lhe muito normal. Mas é clarividente que este professor, não tendo formação em Direito, vai ensinar com muitas dificuldades, por não ter adquirido os saberes técnicos específicos da cadeira. Tem somente o conhecimento da Didática Geral, não da didática daquela cadeira, em particular. Isso é consequencial à aprendizagem dos alunos e à ineficácia dos propósitos da disciplina.

As condições infraestruturais e didáticas na localidade têm muita utilidade no processo de ensino e aprendizagem. Vejamos o caso do professor Rui, que lecciona a cadeira de Língua Portuguesa naquela escola, mas que se debate com o fraco aproveitamento dos estudantes na sua disciplina.

Os alunos têm apresentado muitos problemas de leitura e interpretação de textos, afirma o professor que culpabiliza o ensino das classes anteriores: Não receberam bagagem suficiente no ensino primário.

O professor diz sugerir aos estudantes a lerem muito para melhorar a sua condição de leitura e interpretação, mas lamenta o acesso aos livros no município. Aqui no município há uma estrutura que chamamos biblioteca, mas nunca funcionou, porque nunca teve livros.

Como se pode pedir que esses estudantes criem o hábito de leitura, se no seu município nem sequer há biblioteca ou livraria? De modo algum este pedido terá êxito, ainda mais acrescido à debilitada distribuição de livros didáticos.

É preciso repensar a figura do educador no País a fim de lhes serem oferecidos melhores condições laborais e de vida. Não nos esqueçamos que os problemas apresentados afectam directamente o estudante, este que está a ser formado para também ser professor, o que, tendo colhido os saberes debilmente, poderá naturalmente, enquanto professor, ensinar debilmente.

Todas estas questões fazem recordar o desabafo de um professor daquele município: os dirigentes têm insultado, muitas vezes, os professores, porque têm nos abandonado.

Mosaiko | 20 anos ao serviço dos Direitos Humanos em Angola

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