Um ano depois, seis pessoas morreram na prisão de Cacanda na Lunda Norte, outros três detidos estão em risco de vida, os habitantes de Cafunfo estão impossibilitados de esquecer o fatídico dia 30 de Janeiro de 2021, continuam à procura dos seus mortos e desaparecidos.
O advogado Salvador Freire que representa o líder do Movimento Protectorado Lunda Chockwe (MPLC), esteve na prisão de Cacanda e confirmou o horror, além de manifestar preocupação com o grau de debilitação dos restantes três presos que resistem à desnutrição e falta de assistência médica e medicamentosa.
Ao todo, 22 elementos do MPLC foram detidos antes e depois da manifestação que não chegou a acontecer. Os prazos de prisão preventiva foram largamente excedidos e só na passada sexta, 28 de Janeiro, começou o julgamento. O porta-voz da Procuradoria Geral, Álvaro João, em Setembro passado, revelou que foram abertos dois processos-crime e num dos quais, admitiu ter havido “excesso” por parte dos agentes da Polícia Nacional.
Até então, não foi divulgada a versão oficial dos factos pós-investigação, nem são conhecidas as conclusões do inquérito criminal anunciado pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz.
O Mosaiko | Instituto para a Cidadania apresentou uma queixa-crime há dez meses, após uma equipa que se deslocou até Cafunfo ter sido impedida de sair da casa, onde estava hospedada que entretanto, viu-se cercada e vigiada pela polícia e foi escoltada até sair daquele sector. Entretanto, o Mosaiko soube que o procurador foi substituído e desde então, não obteve qualquer informação sobre o processo.
O silêncio das autoridades ainda aterroriza os habitantes de Cafunfo, muitos continuam escondidos nas matas, outros choram pelos corpos de familiares desaparecidos e o medo de falar voltou a ser uma constante, quando logo nos primeiros dias de Fevereiro passado o recolher obrigatório, as mensagens ameaçadoras entoadas pelas ruas, a partir de carros patrulha e as pessoas baleadas por andarem nas ruas durante a noite, relembraram como a repressão da liberdade e o desrespeito pelos direitos humanos são formas arrogantemente assumidas de governar em Cafunfo e em todo o território nacional.