“Devemos sentir a urgência de sermos livres” – Luaty Beirão

CIDADANIA EM DEBATE

“Devemos sentir a urgência de sermos livres” - Luaty Beirão

O activista e rapper Luaty Beirão iniciou a 25ª edição do “Cidadania em Debate”, no passado dia 8 de Setembro, revelando que só quando foi estudar para fora, percebeu o desconhecimento que tinha de Angola. “Isso fez com que houvesse uma introspecção muito grande da minha parte”, disse.

Beirão contou ainda que o seu envolvimento no activismo começou em 2004, e em 2011 participou numa manifestação. De 2011 a 2015, debateu-se com questões ligadas à liberdade de expressão, para que as pessoas tivessem mais espaços para reclamarem sobre a corrupção e a má governação.

“Queríamos identificar o problema e mostrar às pessoas que é preciso não se fechar numa concha e reclamar entre quatro paredes. É preciso levar a voz para fora e mostrar o descontentamento publicamente”, defendeu Luaty Beirão.

Debate sobre Activismo e Compromisso Social

Luaty Beirão no Cidadania em Debate

“Ganhamos mais estando presos do que livres”

O facilitador do Cidadania em Debate declarou que nos primeiros anos, foi duro abraçar o activismo, mas essa dificuldade permitiu-lhe alcançar algumas vitórias e evoluir, estudando outras formas de se manifestar, mesmo enquanto detido.

“Estávamos sob a tutela deles, dentro de quatro paredes e várias pessoas armadas, a tomarem conta de nós. Então, qualquer coisa que nos acontecesse era problema do Estado”, sublinhou Luaty Beirão, explicando ainda que naquelas circunstâncias, “nós ganhamos mais estando presos do que livres”.

Para Beirão, activismo é uma acção continuada, sistemática de desconstrução de uma teoria exercida por gente com poder. “Não para bater de frente sempre, mas para questionar, pôr em causa, levantar questões e suscitar debates”.

Segundo o activista, persistem ainda algumas “prisões relacionadas com o conceito: a pessoa que se declara activista, firma um compromisso com a sociedade; Prisões de número: a maior parte das pessoas pensa que sozinha não pode fazer nada. Essa é uma das maiores mentiras que conseguiram incutir-nos e que nos torna reféns. Devemos sentir a urgência de sermos livres”.

Os participantes

Elisabeth Capitango uma das participantes da 25ª edição do “Cidadania em debate” questionou a situação da saúde e educação em Angola. “Somos barrados até nos hospitais”.

Em resposta à questão, Luaty defendeu que temos de imprimir muito esforço nestes sectores para podermos falar de qualidade em termos de saúde e educação em Angola daqui a 20 anos. “O desinvestimento na educação foi uma das crueldades que se fez com o Angolano”, disse.

O activista cívico Joaquim Lutambi também fez parte do debate, o jovem contou a situação que viveu recentemente, por ter sido detido por alegado em actos vândalos, entretanto promete continuar a fazer o trabalho de activismo com responsabilidade. Para Lutambi, o Cidadania em debate é um encontro muito importante. “É  uma escola da vida que ajuda as pessoas a terem consciência do contributo que cada um pode dar para o desenvolvimento do nosso país.”

O “Cidadania em Debate” é um espaço de diálogo organizado pelo Mosaiko – Instituto para a Cidadania, com o apoio da Misereor, Instituto Camões e da Fundação Fé e Cooperação. Esta 25ª edição juntou, no Jango do Mosaiko, mais de cem pessoas de vários bairros de Luanda.

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