Quando a mediocridade ocupa o poder

Opinião

WASHINGTON, DC – 06 de janeiro: Um manifestante se senta na Câmara do Senado, em 6 de Janeiro de 2021, em Washington nos Estados Unidos.

WASHINGTON,EUA – 06 de janeiro:Um manifestante se senta na Câmara do Senado

Após o assassinato de George Floyd, em Maio passado, em Minneapolis, marchas e protestos pacíficos se seguiram, mas o mais importante, aconteceu à frente do Capitólio, em Washington. Centenas de policiais embarreiraram-se diante dos manifestantes que exibiram, nos seus corpos e em cartazes, a frase que ficou daquele jovem afro-americano assassinado: “Não consigo respirar!”

A ocupação do Capitólio, em Washington, no passado dia 6 de Janeiro, é a expressão do colapso de um sistema político que está a afogar a essência da democracia. Essa essência não consiste apenas no voto; Relembremos que nas recentes eleições nos Estados Unidos, Trump acumulou dez milhões de votos mais do que há quatro anos.

Quando o neoliberalismo económico se junta ao racismo e à supremacia branca, a ocupação da democracia surge por uma ideologia que procura apenas o regresso a um passado glorioso, branco, patriarcal e nacional-cristão. É a perversão do âmago do ser humano e da sabedoria das religiões. Tudo vale, desde que se manipule as consciências.

A ideologia da desconfiança perante pessoas diferentes, consolida os alicerces da gloriosa América branca, hegemónica e conquistadora. Trump e o seu “exército popular” assemelham-se ao bando de vaqueiros (cowboys) que simbolizam a valorização da violência e o desprezo pela convivência. Para eles, o mundo é o seu rancho e os não-brancos, os seus escravos. É-lhes insuportável a visão de uma América do Norte que em 2040, reflectirá o cruzamento de latinos, asiáticos e afro-americanos que deixarão os brancos como minoria social.

A banalização do mal expressa-se na negação da realidade: da negação da COVID 19, à negação da diversidade étnica e religiosa existente. Longe de enriquecedora, a diversidade é entendida como o que acabou por tirar o poder às pessoas comuns: a elite branca e rica. A simplificação constitui-se num único pensamento e a complexidade é rejeitada, por ser mais difícil de manipular.

A bota no pescoço dos vulneráveis não permite respirar. Somos ameaçados pelo vírus neofascista que ocupa cada vez mais espaço em já vários países. Diante deste desprezo pela vida, as organizações e as redes da sociedade civil devem renovar o compromisso com a participação democrática inclusiva, não violenta e esperançosa. É hora de oxigenar os nossos espaços de participação social, fazendo da diversidade um tesouro que deve ser protegido na sua fragilidade e promovido na sua densidade ética.

Luis Aranguren Gonzalo

Doutorado em Filosofia, escritor e educador

Com o apoio da MISEREOR

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