Manifestação em Angola (foto- Ana Brígida)
Pensar sem filtros sociais, políticos ou morais. Falar sem medo de dizer a verdade. Viver tranquila(o) com o juízo dos outros. Aceitar o que se sente sem receio. Ficar firme num caminho próprio, ainda que contrário ao da maioria. Expressar a pureza interior com convicção. Assumir o erro, a fraqueza e a vulnerabilidade. Deixar-se levar. Ser inconveniente. Criar sem limites. Desconstruir padrões e convicções… Desafiar a vida e a morte.
É o que faz quem é verdadeiramente livre! Raros são os que, tal como escreveu Amílcar Cabral, são capazes de transpor o mundo e transformar a Vida. São reconhecidos, a título póstumo, pelo heroísmo e bravura por lutarem até morrer ou morrerem por lutar. Mas antes disso, são terrivelmente fustigados, hostilizados e reprimidos por uma sociedade gerida por gente que só sabe governar sufocando a liberdade.
É paradoxal, a sociedade mundial, nacional ou virtual, estruturada sob o princípio de uma liberdade que desencoraja e perverte… Para a sociedade, a liberdade é um adereço, dedicando-lhe maior esmero alimentando mecanismos que disseminam o princípio da liberdade sem permitir explorá-lo profunda e livremente.
Com tudo isto, sabemos que o custo de ser livre continua elevado. Mas ceder a nossa liberdade por conforto, sobretudo material, pode não parecer, mas é muito mais dispendioso. A pessoa livre paga com a vida, a certeza de dias melhores, enquanto que a pessoa que negligencia a sua liberdade vive morta.
Sem ilusões, sabemos que são mais os que negligenciam e negociam a liberdade em nome do politicamente correcto. Por isso convivem com a auto-censura e auto-recriminação reprimindo, automaticamente, qualquer ímpeto diferente do convencionado. Abafando e desdenhando o que é livre.
Sobre esse efeito de “murro no estômago” sabemos que só é capaz de o provocar quem se sente livre e é impelida(o) obrigatoriamente a agir, a ir além, a desafiar-se, inconforma-se e incomodar-se, o bastante, para sair do discurso.
Não precisamos de heróis, mas sim de pessoas realmente livres que não paralisam pela falta de coragem, não desistem pela ausência de quórum e nem se curvam. Liberdade não se acomoda nem se controla. Requer apenas coragem para aplicar esse tal murro certeiro no estômago dos anti-liberdade.
23 de Janeiro é o Dia Mundial da Liberdade.
Mandele Rocha
Com o apoio da MISEREOR