“Jornalismo” sem povo

O tema “Jornalismo para a Cidadania” do Cidadania em Debate que ocorreu no passado sábado, 9, juntou cidadãos que manifestaram frustração em relação denominado jornalismo que se pratica em Angola....

O tema “Jornalismo para a Cidadania” do Cidadania em Debate que ocorreu no passado sábado, 9, juntou cidadãos que manifestaram frustração em relação denominado jornalismo que se pratica em Angola.

O debate teve como facilitadoras, Maria Luísa Rogério, jornalista e presidente da Comissão de Carteira e Ética,  e Verónica Pereira, coordenadora de Comunicação do Mosaiko|Instituto para a Cidadania. Uma das primeiras constatações é que em Angola, sobretudo nos meios de comunicação social públicos, não se faz jornalismo, mas sim propaganda.

E com este tema: Jornalismo para a Cidadania, reflectiu-se sobre a realidade paradoxal em que o dito jornalismo não está ao serviço do povo, mas sim, de um partido e logo, ignora as diferentes vozes, não protege os direitos, liberdades e recursos de todos e todas. Atropela leis, o código de ética e de deontologia e viola permanentemente a Constituição da República de Angola.

Perante este quadro de perversão das leis, os participantes questionarem se a Comissão de Carteira e Ética aplica sanções aos prevaricadores da lei e deontologia da profissão, muitos destes indivíduos famosos até. Maria Luísa Rogério confirmou que é comum o organismo que preside, aplicar suspensões até mesmo aos mais velhos ou famosos. Contudo, não há espaço para divulgar estas penalizações, uma vez que o “corporativismo” entre os prevaricadores é real. “Ninguém vai publicar uma notícia sobre a suspensão de um colega, sobretudo se for director de um órgão, porque pensam que amanhã poderão ser eles”.

E perante esta situação recorrente, praticamente sem consequências, muitas vezes justificada pela necessidade de “ganhar o pão”, Verónica Pereira perguntou a que custo? “Uma vez que só se justificaria algum sacrifício e, não este de se auto-violar, em favor do progresso, mas não é o caso de Angola, onde este sector tem registado retrocessos, recentemente notados e de certa forma, ridicularizados por um comentário de um Chefe de Estado estrangeiro”.

De acordo com a lei, o jornalismo assume no seu exercício, o mandato constitucional de preservar e garantir direitos e liberdades dos cidadãos e cidadãs. Segundo o estatuto e deontologia desta profissão, o jornalismo faz-se tendo como ponto de partida o interesse do povo, transmitindo as diferentes vozes, questionando sobre o que foi feito e o que não foi feito, investigando sem pedir autorização, todo e qualquer sinal de suspeição, ameaça ou abuso dos recursos do povo e só assim é capaz de informar e formar o cidadãos e cidadãs, permitindo que tomem decisões e participem conscientemente na vida pública.

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