Guerra Israel/Palestina: Posicionamento Mosaiko

Por que nós, Mosaiko, advogamos pelo cessar-fogo na Faixa de Gaza? Acima de tudo, pelas pessoas. Por todas as pessoas que vivem aterrorizadas e esmagadas literal e/ou figurativamente pelo poder...

Por que nós, Mosaiko, advogamos pelo cessar-fogo na Faixa de Gaza? Acima de tudo, pelas pessoas. Por todas as pessoas que vivem aterrorizadas e esmagadas literal e/ou figurativamente pelo poder financeiro, político e bélico. Essas pessoas somos nós todos e todas, concentramo-nos, sobretudo no chamado sul global, todos os dias somos silenciados, desumanizados e destruídos, mas ninguém parece importar-se o suficiente para impedir que morramos aos milhares e centenas de milhares em guerras, por fome, doença…

Gaza relembra-nos tudo isso, mas também demonstra de forma inequívoca a imoralidade de uma “comunidade” internacional capaz de perverter os valores e princípios que só impõe e exige dos outros. Ver os rostos e ouvir os discursos dos que apoiam aquela guerra, neste momento é também perceber que há uma argumentação débil, irracional que assume a sua cegueira calculista com foco único: interesses financeiros e políticos.

A isto tudo estamos mais ou menos habituados, mas com Gaza o desrespeito declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) deixou a nú a subalternidade que se espera desta instituição internacional. O tom e as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel na ONU são explícitas: “É tempo de ensinar uma lição às instituições da ONU, exigimos que peça desculpas imediatamente… Quem não compreende o ataque sangrento do Hamas, não vive no nosso mundo e não representa os membros mais importantes da ONU”.

As acções que se seguiram também são inéditas dignas dos que se consideram “mais importantes”. Israel acusou a ONU de parcialidade e  bloqueou todos os vistos dos funcionários desta organização que se encontram naquele país.

É incontornável a fragilidade de uma instituição internacional que acabou de aprovar uma resolução de pedido de cessar-fogo humanitário que será arrogantemente ignorada, apesar dos 120 países a favor, 45 abstenções e 14 contra, dentre 193 Estados-membros. Além disso,
António Guterres, secretário-geral da ONU, esteve na fronteira entre o Egipto e Gaza, pedindo a entrada de 20 camiões com água, comida e medicamentos, os seus apelos nem mereceram resposta.

Depois, manifestou preocupação com as claras violações do direito humanitário internacional em Gaza. “Quero ser claro: nenhuma parte num conflito armado está acima do direito internacional humanitário. Nada pode justificar a morte deliberada, os ferimentos e o rapto de civis ou o lançamento de rockets contra alvos civis”. Do discurso de Guterres, Israel fixou apenas: “Os ataques do Hamas não vem do nada, palestinianos foram sujeitos a 56 anos de ocupação sufocante” e subsequentemente, o país que está entre os “mais importantes” pediu a demissão do secretário-geral da ONU.

Neste momento, quem defende e promove os direitos humanos tem que repudiar o desrespeito e arrogância sucessivos dos que se consideram “mais importantes” e por isso, legitimam os seus actos de violação de direitos e liberdades. Fragilizar a ONU é destruir um mecanismo de recurso de todos nós, muitas vezes o último reduto capaz de reverter injustiças e violência.  

Talvez seja o momento de dar real poder a este organismo de concertação global para evitar que as suas posições sejam permanentemente ignoradas e consigam impedir e travar atrocidades. Entretanto, a esperança ressurge do lado certo, as pessoas por todo o mundo, sobretudo nos países que se dizem mais importantes, estão nas ruas. Temem a irracionalidade de um day after sem checks and balances, nós também. O Mosaiko advoga pela paz, pela dignidade humana, pela integridade das instituições que asseguram os direitos e liberdades universais. Por isso hoje somos Palestina, somos Gaza, da mesma forma que somos Sudão do Sul, somos Eritreia, somos Angola.

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