Excesso de trabalhos domésticos impede mulheres de aceder à Educação

Mulher e o Direito à Educação

Educação e Género

Um grupo de mulheres do município do Cazenga denuncia situações  e atitudes  que impedem que meninas e mulheres tenham acesso à Educação.

As cidadãs fizeram esta denúncia durante a Formação sobre Educação e Género que o Mosaiko facilitou, recentemente, naquele município de Luanda.

“Muitas meninas e mulheres fazem tanto trabalho em casa que já não têm tempo para se dedicar aos estudos”, afirmaram, mencionando ainda, outras situações e atitudes que travam o desenvolvimento do género, tais como a pobreza, o machismo nas famílias, a falta de escolas próximas e o débil serviço de transporte.

Este “é um problema social e não deixa ser também um problema do Estado, porque o sistema cultural do nosso país tem aquele preconceito de que a mulher merece só ficar na cozinha, cuidar da casa e dos filhos, mas estamos já no século XXI, esse preconecito tem que ficar para trás”, alertou Maria Luísa Barros, professora da 6ª classe da Escola Primária 367.

Depois da formação, o facilitador do Projecto 4Ms, Manuel Lima, disse ser muito visível esta desigualdade entre homens e mulheres nas famílias do seu bairro. “Há sempre problemas de igualdade de género, podemos encontrar sempre famílias em que à mulher são deixadas todas as tarefas de casa”, relatou.

A assessora de Direitos Humanos do Mosaiko, Sandra Gonçalves, uma das facilitadoras da formação, destacou a importância de se discutir e denunciar situações que violam os Direitos Humanos das mulheres, referindo que se deve combater a “educação machista” no seio das famílias.

“Quando, numa casa, a filha é que deve fazer a maior parte dos trabalhos domésticos só pelo facto de ser do género feminino, são vários Direitos Humanos que lhe estão a ser violados, e um deles é a educação”,  reafirmou a assessora, sustentando que, mesmo que a menina estivesse numa escola, a produtividade não pode ser equiparada ao do rapaz, pois, como disse, “este tem normalmente mais tempo disponível para se dedicar à escola”.

Sandra Gonçalves defende que a solução, para o que considera ser um problema social, passa pela consciencialização dos pais sobre a gravidade das “suas atitudes machistas” nas famílias.

“A justiça para as mulheres deve começar com o equilíbrio na distribuição dos trabalhos em casa, que tem de partir da educação que os pais dão aos filhos”, concluiu.

Sobre a formação

A Formação sobre Educação e Género foi organizada pelo Projecto Mutue-Muxima & Malu-Moko (4Ms), de 8 a 10 de Maio passado, na Escola Missionária Santa Madalena e na Casa das Irmãs Catequistas Franciscanas, no município do Cazenga.

O encontro reuniu 166 pessoas, entre professores e estudantes, dos quais 112 mulheres e 54 homens.

A equipa do Mosaiko, facilitadora da formação, foi constituída pelos assessores Filipe Pedro, Jackson Máquina, Cássia Clemente e Sandra Gonçalves.

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