Olhe, todos estes sinais que estão em mim é da surra que me deram na família. Quando nos colocaram fora de casa, fomos para uma igreja num domingo e nos explicamos. Enquanto eu contava a minha história para algumas pessoas que ali me ouviam, não pude conter as lágrimas, de tanta tristeza que o meu coração sentia. Eu e a minha irmã fomos apresentados e depois acolhidos por um catequista. Por uma noite, ele nos levou para dormir em sua casa…No dia seguinte depois que dormimos na casa daquele catequista, ele me trouxe num sítio de atendimento para menores, e levou a minha irmã num outro centro. Hoje vivo aqui, não quero que um dia me deixem viver na rua…. (parte de uma História real de uma criança que tem 14 anos, que vive em Luanda).
Esta é uma das muitas histórias de crianças que infelizmente sofrem com as acções violentas praticadas principalmente por familiares, que deveriam ser os primeiros a proteger e cuidar da vida destes pequeninos. Mais nem sempre é assim que acontece. Embora hajam leis, embora haja também quem esteja sempre atento aos cuidados dos direitos e deveres da criança, ainda assim, os nossos miúdos têm sido cada vez mais, vítimas destes actos. E quando falamos de violências estamos a falar das suas diversas formas, como: violência física, psicológica, sexual, enfim.
Podemos imaginar quanto transtorno isso causa na mente e no coração destas crianças, que chegam ao mundo cheias de sonhos e vida para ser vivida com dignidade. Certamente você já encontrou uma criança, mal-humorada, agressiva, que chora por qualquer motivo, até no jeito de olhar, sente-se que é um olhar vago, carregado de tristezas. Estes são alguns sinais de que este pequeno ser está a sofrer com alguma coisa. E nós, não podemos nos calar diante de qualquer situação que esteja a ferir a dignidade, seja de quem for. Sabemos o quão indefesa é uma criança, não podemos permitir que nenhuma atitude violenta seja cometida. A violência é crime e precisa ser denunciada independentemente das circunstâncias.
Se queremos uma Angola melhor, precisamos cuidar bem dos nossos miúdos e miúdas. Não esqueçamos que a infância é um dos períodos fascinantes na vida de qualquer pessoa. Este fascínio precisa ser descoberto por elas mesmas, e por quem está perto dela. Se criarmos as nossas crianças num espaço onde a liberdade, o amor, o afecto são gestos espontâneos e verdadeiros, logo essas atitudes podem fazer toda diferença nos ambientes exteriores onde as crianças começam a frequentar. A escola, os grupos religiosos e sociais, os círculos de amizade, certamente terão outra visão de mundo.
Sabemos que somos muito mais capazes de praticar o bem, do que o mal. Se educarmos bem as nossas crianças, estamos a prepará-las bem para enfrentar qualquer intempérie da vida. Nós, as mães, os pais e demais adultos somos espelho, por meio dos quais, as crianças se veem reflectidas, cabe-nos a nós sermos conscientes do que estamos a transmitir. Quiçá, sejamos fonte, de onde emana o bem, a paz, o amor para as crianças do mundo inteiro, à elas todo respeito, cuidado e proteção!
Mosaiko 20 anos ao serviço dos Direitos Humanos em Angola.