“ARTE QUE NOS PROVOCA”

A edição de Agosto do Cidadania em Debate, no sábado, 10, no Jango do Mosaiko, reflectiu sobre “Arte e Cidadania: Arte que nos Provoca”, marcada por uma radiografia de como...

A edição de Agosto do Cidadania em Debate, no sábado, 10, no Jango do Mosaiko, reflectiu sobre “Arte e Cidadania: Arte que nos Provoca”, marcada por uma radiografia de como os artistas podem e devem posicionar-se como agentes para despertar a consciência cidadã de “uma população emburrecida para as artes”, cenário causado por políticas públicas de passividade e ignorância do povo criadas por quem governa.

“A arte é um instrumento de expressão de cidadania, desejo provocativo e uma ferramenta para trazer pensamento de mudanças ligadas ao capitalismo, xenofobia, vivências e direitos das minorias, é uma arma pacífica”, afirmou Joice Zau, artista de poesia falada “slammer”.

Em Angola, a consciência cidadã artística encontra-se num estado de quase morte, provocada por acções institucionalizadas que privilegiam a arte que pauta pela hipersexualização, futilidades e objectifição da mulher, causando, propositadamente, um emburrecimento da população para as causas sociais, materializadas pelas limitações na divulgação de arte de intervenção na imprensa convencional, para além das retaliações contra quem faz arte para despertar a consciência do povo.

“É normal as pessoas não fazerem arte para a cidadania. Em Angola não há política para fazer arte com relevância social e de resistência, por conta da falta de condições básicas. O que acho interessante é quando o artista burla o sistema para fazer uma arte participativa”, asseverou José Calenga, participante do debate.

Por sua vez, o rapper Timóteo Gaspar “Timomy”, dos Fat Soldiers, defendeu que “o artista traduz um fenómeno e o demonstra para a comunidade”, chamando atenção para a responsabilidade social do artista, “normalizamos muita coisa porque o nosso corpo está anestesiado, não sentimos a dor e é o que tenho que despertar”. Para o artista musical a arte tem de estar acompanhada dos deveres, colocando-se no lugar do outro. “O nosso trabalho é desemburrar o povo, dando às pessoas a capacidade de interpretar além daquilo que o artista traz”.

As participantes e os participantes defenderam que a arte deve incitar à violência intelectual, substituindo o medo dos ataques e retaliações pelo dever de evidenciar os problemas sociais e despertar a consciência cidadã, radiografando a realidade, porque a arte não é inocente, a arte é sempre política. Entretanto, lembraram de que, assim como os artistas estão a trabalhar, o Governo também tem que trabalhar, criando políticas públicas e estruturas de preparação das pessoas para a arte, nomeadamente cidades arquitectadas para o bem-estar de todos, com escolas e outros espaços públicos verdes que permitam a evasão e estimulem e contemplação da natureza e da arte.

O debate foi facilitado por Joice Zau, slammer, Horácio HB, grafiteiro, bem como Timomy e Soldier V, membros do grupo de rap Fat Soldiers, com a participação de aproximadamente 40 mulheres e homens, adolescentes e jovens.

Apoio: Misereor

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