Como cumprir a tarefa da inclusão participativa num contexto onde a marginalização social é um instrumento de gestão governativa? No passado sábado, 13, o Cidadania em Debate, mudou-se para a Biblioteca 10Padronizada, localizada na Robaldina, em Viana, para reflectir sobre os “Desafios da Participação Inclusiva: Uma Tarefa de Todos”.
“A marginalização social, muitas vezes, é criada de forma consciente para que não se perceba que as coisas não estão bem”, constatou Adérito Fernandes, vice-presidente da Liga de Apoio à Integração dos Deficientes (LARDEF).
Segundo o responsável lutar pela participação inclusiva pressupõe logo à partida, desafios e barreiras na procura de soluções conjuntas que beneficiam todos. Neste sentido, ao usar a marginalização social, enfraquece-se também a capacidade de combater a exclusão de grupos específicos ou seja, quanto mais pessoas são discriminadas, menos se ocupam com os problemas dos outros, uma vez que têm que lidar com os seus próprios.
Os diferentes grupos marginalizados social, física ou financeiramente, agem isoladamente e dificilmente se apercebem do que têm em comum. Daí que a proposta deste Cidadania em Debate de atribuir a tarefa da inclusão a todos e todas, pareça deslocada num contexto em que se promove a divisão, aumentando as dificuldades de todos.
Contudo no que concerne à violação dos direitos das pessoas com deficiência física e outras necessidades especiais, em Angola este assunto ainda não constitui responsabilidade de todos e todas, mais difícil se torna sem políticas públicas e estruturas sociais que garantam a educação e consciencialização para a inclusão, respeito e a definição do papel a ser desempenhado por todos neste processo.
“Duplamente discriminada”
Idalina Buta, presidente da LARDEF, sente-se discriminada por ser mulher e por ser uma pessoa com deficiência. “O ensino pouco inclusivo e as limitações da mulher no acesso à saúde sexual e reprodutiva e a falta de humanismo”, além do “não-cumprimento da lei sobre a inclusão faz com que sejam contínuas as situações em que uma mulher cega ou surda gestante não consiga ler nem entender o caderno materno-infantil”.
Já o rapper Isis Hembe apontou as barreiras estruturais que desencadeiam barreiras arquitectónicas que dificultam o acesso aos transportes e a outros meios e serviços públicos. Sublinhando ainda, a necessidade de educar, consciencializar e combater os preconceitos, sendo um papel de todos para a construção de uma sociedade mais justa.
Com a presença de mais de 20 participantes, no encontro foram apresentadas, também, as necessidades e urgências da construção de conhecimento e acções para a mudança de consciência e alcance de equilíbrio numa sociedade onde cada pessoa tem o seu grau de exclusão e não existem sistemas e instituições que tratem das diversidades funcionais, não só para as pessoas com deficiência, como também, para aquelas que não têm os corpos normativos (pessoas com obesidade, albinismo, magreza…), além do cuidado com a linguagem e as acções que muitas vezes legitimam a discriminação.
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