Uma parte do trabalho do Mosaiko, na defesa e promoção dos Direitos Humanos, passa por actividades de formação e educação não formal. Nesse trabalho, privilegiamos a construção participativa de conhecimento e, para tal, usamos ferramentas pedagógicas como a chamada “Árvore dos problemas”.
Para quem não conhece, é muito simples: depois de identificado um problema, somos convidados a pensar nele como uma árvore. O tronco é o nosso problema, os ramos, folhas, flores e frutos: são as consequências do problema.
O problema que mais tem tido implicações na vida das pessoas, nas últimas semanas, tem um nome: coronavírus (ou a doença que provoca, a covid-19). Há uma fase, em que estamos imersos no problema e a nossa atenção concentra-se nas consequências: medo, crianças sem escola, negócios cancelados, desemprego, salários atrasados (para quem continua a ter salário), doença, menor acesso a comida e outros bens essenciais. E nesta fase, reagimos às consequências: evitamos ser contagiados, costuramos máscaras, apoiamos uma vizinha que não tem o que dar de comer aos filhos, acolhemos em nossa casa o primo que vivia sozinho ou mandamos encher o tanque de água.
Mas uma árvore não é apenas o que vemos: tem raízes. E, no tal exercício, a raiz da árvore representa as causas do problema. Às vezes, não se vêem à primeira, não são óbvias, ou estão camufladas.
Quais são as causas deste nosso problema?
A causa, como muitos dizem, não são os chineses. Na história da humanidade sempre aconteceram, periodicamente, pandemias (mas a nossa memória colectiva é curta e o que aconteceu há mais de 100 anos é como se não existisse, para nós). O factor comum nestas pandemias é que gerimos o nosso planeta de tal forma que propiciamos o aparecimento destes vírus, que existem nos animais e que, num dado momento, conseguem passar para o ser humano. Mas as alterações ambientais que permitem que um vírus passe de uma espécie para a outra, somos nós, seres humanos, que provocamos.
A causa, directa ou indirectamente, é o sistema económico capitalista que confere valor na dicotomia dinheiro / desenvolvimento. E as respostas a esta crise, se continuarem a ser medidas por uma economia que não é solidária e só valoriza o que representa dinheiro, não serão respostas com futuro e sustentabilidade. Respostas serão as que nos ajudarem, a cada uma e cada um de nós, a mudar a visão que temos do mundo e do que valorizamos nas nossas vidas.
Consumir menos, consumir o necessário, comprar e consumir produtos locais, ter a firmeza de saber que o mundo tem que ser um lugar para todas e todos (nós, que cá estamos, e os que ainda vão nascer). Respostas com futuro são, também, aquelas, em que a opção por ter menos, não seja um privilégio dos que têm muito (como pode, um pobre, escolher ter menos?)
É um desperdício não aproveitar uma crise. Temos, agora, uma crise nas mãos, o tal problema chamado “coronavírus”. As soluções verdadeiras são as que respondem às causas (raiz) e não às consequências (as folhas), mesmo que, agora, ainda seja o momento em que os nossos esforços se concentram em resolver consequências.
Precisamos aprender, novamente que a nossa grandeza se mede pelo que somos e não pelo que temos e que a Terra é a casa comum, explorá-la desenfreadamente é colocar em perigo a nossa existência.
Lia B. Lima