“Não existe um livro ou leitores bons, cada um deve descobrir o seu próprio interesse” – Cecília Prudêncio
A Biblioteca Mosaiko faz 21 anos no próximo dia 20 de Setembro. Em entrevista, Cecília Prudêncio, a coordenadora da Biblioteca há três anos, revela os desafios e os objectivos alcançados, destacando o mais recente: a abertura do espaço aos sábados das 08:00 às 12:45.
Em 1997, no Centro Cultural Mosaiko, a Biblioteca começou por ser, sobretudo para consumo interno. Quantos livros tinham e quando passou a estar aberta ao público?
No início, a Biblioteca tinha apenas 314 livros e dois voluntários que faziam a classificação dos livros e organização do material. Só no início do ano 2000, abrimos o espaço ao público. Na altura, eram maioritariamente crianças devido à escassez de bibliotecas nas escolas vizinhas. Os alunos vinham à Biblioteca Mosaiko para consultar livros e estudar. Era já um número elevado de crianças de diferentes escolas de Viana e também, algumas do Cazenga. O jango e a sala de leitura ficavam totalmente cheias.
Estas escolas encaminhavam os alunos para a Biblioteca Mosaiko, isso obrigou a aumentar o número de livros?
A Biblioteca tem vindo a ser apetrechada com o apoio da Misereor e de algumas doações vindas de Portugal. Hoje, temos cerca de 9000 livros à disposição. Por outro lado, aumentámos a nossa oferta porque, desde o início, o foco era alcançar também os estudantes do ensino médio e superior.
De 2005 a 2012 passamos a ter um público mais especializado, a biblioteca foi organizada com o sistema de classificação universal e, só a partir de 2015, conseguimos ter mais leitores do ensino médio e superior.
Qual é a frequência média de leitores e quantas pessoas trabalham na Biblioteca?
Por ano, cerca de 1000 leitores frequentam a Biblioteca, por dia entre dez a 15 estudantes. Temos mais de 2000 estudantes e leitores inscritos. Neste momento, a Biblioteca Mosaiko trabalha com dois bibliotecários adjuntos e uma pessoa na coordenação.
Que parcerias e iniciativas de relevo têm desenvolvido?
A Fundação Arte e Cultura tornou-se parceira da Biblioteca Mosaiko através da promoção das rodas de leituras e, consequentemente, no Facebook criou-se o Clube de Leitura.
As iniciativas são inúmeras. Só para dar uma ideia, na parceria com as escolas e sendo o foco do Mosaiko, a promoção dos Direitos Humanos, um dos contributos da Biblioteca foi a criação e a aplicação do Jogo dos Direitos Humanos que propicia um primeiro contacto com esta temática e incentiva a partilhar e a reflectir.
É possível medir o impacto do vosso trabalho?
Sim. É verdade que não existem muitos instrumentos para medir o impacto, mas há escolas e professores que trabalham em parceria com o Mosaiko e, informam os seus alunos para que tratem do cartão de leitor da nossa Biblioteca. Quando convidamos e promovemos as rodas de leitura, os directores das escolas acolhem bem a iniciativa e participam. Além disso, promovemos a leitura e a pesquisa nas escolas para que exista uma continuidade desta missão.
Além destas iniciativas que tipo de serviços presta a Biblioteca Mosaiko?
Somos solicitados para apoiar em trabalhos de fim de curso e preparação das monografias. Ainda são poucos os que recorrem a estes serviços, mas é bom ver que os estudantes já encararam o seu trabalho de forma séria e responsável.
Que livros são, por norma, mais requisitados?
Em 2015 fez-se uma primeira análise e constatamos que a maioria dos leitores consultava um livro apenas, mas hoje, notamos algumas mudanças, já temos leitores que consultam livros de diferentes áreas e isso é interessante porque já não estão focados em cumprir a tarefa que determina a disciplina, interessam-se por títulos de cultura geral. Continua a ser um desafio, estimular o hábito e o gosto pela leitura.
Além desse desafio o que falta ainda alcançar?
Com a abertura da Biblioteca Mosaiko aos sábados, o nosso desafio será aumentar e promover hábitos de leitura entre as mulheres. Notamos que por falta de apetência, tempo ou por acumularem muitas responsabilidades, não conseguem cultivar este gosto. Esperemos que ao sábado tenham mais facilidade e passem a frequentar a biblioteca.
Que tipo de livros poderia sugerir a estas mulheres?
Agora temos uma área ligada ao feminismo e ao género ou podem então, revisitar a História, creio que poderia ser interessante, mas é claro, não existe um livro ou leitores bons, cada um deve descobrir o seu próprio interesse.
Quais são os livros que acabaram de chegar?
A actualização do acervo da Biblioteca Mosaiko é constante, os títulos mais recentes e que já estão disponíveis são: Mulheres e Poder; Crítica da Razão Negra; Sociologia do Jornalismo; Jornalismo de Investigação; À Volta do Desenvolvimento e os Limites do Desenvolvimento; Angola os Brancos e a independência; Angola 27 de Maio; Era do Desenvolvimento Sustentável; Cidadania e Jornalismo; e Se Deus fosse um Ativista de Direitos Humanos.
Por uma Angola Melhor!