“Sem cultura a vida fica verdadeiramente miserável” – Lígia Roque

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“Sem cultura a vida fica verdadeiramente miserável” – Lígia Roque

A actriz e encenadora, portuguesa, Lígia Roque, está em Angola, a convite do Mosaiko, para facilitar uma formação de teatro aos jovens em Viana.

Foi convidada pelo Mosaiko para preparar uma peça teatral que será exibida no dia 10 de Dezembro deste ano e 24 de Janeiro de 2019. Como está a decorrer a preparação dos jovens?

Muito bem. As minhas expectativas estão a ser bastante ultrapassadas, tenho um grupo de 18 participantes, com uma média de idade de 20 anos, eles estão a corresponder muito bem. São muito criativos, atentos e concentrados. E, portanto, não vejo motivos nenhuns para que não se mantenham todos até ao fim e não façamos um bom espectáculo.

Apesar de uma longa experiência como professora de interpretação teatral, é a primeira vez que trabalha a temática de Direitos Humanos?

Sim. Embora tenha decidido não fazer assim, tão directamente quanto isso. Estou a dar uma formação e esse é um dos intuitos primários: dar uma formação aos participantes e, como resultado disso, fazer um espectáculo.

Vim aberta a várias possibilidades, é a primeira vez que estou em Angola. Nunca trabalhei com jovens angolanos, não tinha bem consciência de qual seria a formação deles, por isso vim com abertura para mudar as minhas ideias. Mas, na verdade, descobri que eles eram muito criativos e que têm uma capacidade de improvisar extraordinária.

No fundo, decidi falar dos Direitos Humanos de uma forma não tão directa nem panfletária. Escolhi um texto literário bastante poético e metafórico, queria que os Direitos Humanos fossem respeitados e, enquanto fazia uma releitura do texto “O sonho”, do Strindberg, de repente pensei: Isto é tudo sobre os Direitos Humanos!

Eu própria fiquei muito surpreendida, alterei algumas coisas, adaptei para uma vertente mais pedagógica para fazer chegar às pessoas, a importância de saber quais são os nossos direitos e como colocá-los em funcionamento.

Cultura teatro Lígia Roque

Lígia Roque a facilitar o ensaio de teatro com os jovens

O primeiro espectáculo será já no dia 10, qual é a sua expectativa?

Foi muito pouco tempo, principalmente por ser um grupo que não tem muita experiência em termos de espectáculo. Agora, já têm capacidade de performance e linguagem, são muitos expeditos em termos retóricos. Mas é realmente muito pouco tempo e é um grupo que eu não conhecia, há aqui muitas componentes que dificultam, mas acredito vivamente que chegarei ao fim e que cumprirei os objectivos a que me propus e acredito que tenho uma equipa para o fazer, não só a equipa de jovens, mas também a do Mosaiko.

Há quanto tempo faz teatro?

Há muito tempo. Comecei a fazer teatro, assim mais à séria, no teatro universitário, há 35 anos. E depois fizemos uma companhia profissional em Coimbra (Portugal), onde eu estudava. Como não tinha formação em teatro, decidi ir estudar em Paris, estive lá um ano. E estudei teatro no mestrado. Tudo isso foi um processo que nunca parou.

Como é trabalhar a temática Direitos Humanos?

É muito desafiador, porque nos coloca questões que tem a ver com a complexidade e a simplificação. Porque se por um lado, os Direitos Humanos estão ancorados em realidades muito complexas e díspares, são ideias que tem que abranger uma série de países e de culturas muito diferentes, por outro lado, tem de ser necessariamente simples, porque são direitos que deveriam ser universais do ser humano. Os Direitos Humanos têm de passar as fronteiras e têm de ser suficientemente simples para passar fronteiras.

E como fazer isso num espectáculo? Isso para mim foi mais complicado, mas estou com curiosidade para ver como é que vai ficar. (risos)

Teatro é arte, arte é um dos elementos da Cultura, e em Direitos Humanos fala-se também do direito à participação na vida cultural. Acha que a componente artística é valorizada?

Quando as pessoas dizem que o que é importante não é cultura, o que importa é as pessoas terem o que comer, simplificando, eu costumo dizer: tirem tudo que é cultura da vida das pessoas (as pinturas, as fotografias, a música, o teatro, o cinema), tirem tudo isso e a vida das pessoas fica verdadeiramente miserável.

Por uma Angola melhor!

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